Durante uma reunião de pauta com os redatores do Indie-Wine em nossa sede em São Francisco, uma pergunta subiu a tona: qual a banda mais porrada dos últimos tempos? A resposta foi unânime. Nada de metal, nada de punk, nada de maquiagem, nada de rótulos. A banda mais paulada dos últimos anos é Rage Against the Machine. Textura, groove, riffs de guitarra, pegada e muita, muita, muita raiva contida. Uma raiva focada, canalizada e integrada, que explode a cada música, seja na dinâmica do refrão, seja no olhar psicho e nas letras politizadas de Zack de La Rocha, seja no wah-wah rasgado de Tom Morello - sem dúvida um dos mais criativos guitarristas do século, seja na platéia pulando, suando e cantando junto "fuck you I wont do what you tell me". E como eles conseguem chegar ao nível extremo da porrada?
Eles acreditam. Acreditam nas letras. Acreditam no que dizem. Acreditam que podem mudar alguma coisa nessa porra toda. No Loollapalooza III, pela primeira vez no palco principal, subiram e não tocaram absolutamente nada. Ficaram ali, plantados, pelados, com um silver tape na boca, por 15 minutos, em protesto contra censura e todo o bla bla bla do Parents Music REsource Center. Se é marketing ou não, simplesmente não importa. Porque o som é coerente com a postura. E porque o som é uma pedrada sem precedentes. Por isso coloque-se na seguinte situação: você e seus amigos zapatistas estão planejando uma revolução tranquilamente escondidos em uma floresta, escutando Rage Against the Machine. Uma revolução não se planeja tomando água, leite ou suco. Mas sim um bom vinho. E qual vinho você escolhe para harmonizar com Rage?
Um vinho que diz ao mundo a que veio. Nada de equilíbrio e sutileza. Pelo contrário: um vinho cheio de desequilíbrio, que atropela a tudo e a todos, incluindo homens, mulheres, carnes de caça e queijos. Um belo 100% syrah australiano que é literalmente um coice: The Footbolt d'Aremberg 2001. Footbolt era o cavalo de corrida do dono da vinícola, que pode comprar suas terras graças as vitórias do humilde pocotó. Em homenagem, ele fez um vinho cavalar. Zahil / R$80,00.
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Footbolt - um coice. |
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The original Molotov Cocktail. |
Um pouco mais salgado e ainda mais angustiado e violento, The Dead Arm, do mesmo produtor, é também um vinho porrada. "Dead Arm" é uma doença causada na videira na qual um fungo mata um dos galhos da planta. O que acontece é que, para sobreviver, o outro galho sai feito um louco atrás de nutrientes, carinho e atenção. O resultado são frutos concentrados e saborosos, verdadeiros heróis de guerra, capazes de anestesiar as papílas gustativas de qualquer enólogo. Robert Parker, que por sinal é grande amigo de Zack de La Rocha e até chegou a montar um projeto com Tom Morello, deu 98 pontos ao Dead Arm 2001. É beber, curtir e escutar Killing in the Name. Inclusive, depenendo da situação, as garrafas também podem ser reutilizadas para um excelente Coquetel Molotov. Zahil / R$ 200,00 +.
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Dead Arm - um pelotão de uvas que viraram heróis de guerra |